quinta-feira, 2 de março de 2017

Somos alegres demais para sermos felizes de verdade

Quantos dias são necessários para se conhecer uma nação? Mais de 4, com certeza. Pois se eu tivesse pousado no Brasil nesses últimos 4 dias de Carnaval, eu acreditaria piamente que esse país não tem corrupção, trânsito caótico, violência de tudo quanto é tipo, nem uma saúde pública falida, inflação mascarada e muito menos os 13 milhões de desempregados que essa mídia “golpista” insiste em anunciar. Durante a festa da carne tudo por aqui parecia uma enorme Suíça tropical. O Brasil que eu conheci no Carnaval não tem nada do Brasil que eu já conhecia de outros Carnavais.

No Cordão do Bola Preta tudo azul, na Banda de Ipanema não teve propina, no Galo da Madrugada e lá em Olinda os bonecos gigantes homenagearam os nossos políticos com a pompa e elegância que eles não mereciam. E assim foi, os blocos desse nosso Brasil de 4 dias arrastando milhares de brasileiros com rostos repletos de purpurina, vestidos de pierrô, marinheiro e colombina, sempre exibindo suas latas de cervejas e fazendo propaganda de graça nas redes sociais. Viva! Eu sou feliz!

Nos belos desfiles do Rio e São Paulo, onde a paixão vira cifrão num passe de mágica, eu vi pessoas de verdade que pagam caro por suas fantasias e pessoas de mentira, celebridades, musas, que exibem sem a mínima necessidade seus corpos pintados de bronze e seus peitos enormes que balangam mais do que os próprios carros alegóricos – e esses, por sinal, infelizmente maquiaram de vermelho alguns integrantes da sua escola.

Teve cantora descendo pra pipoca pra se sentir quase normal, teve pastor autorizando o desfile da crente fogosa e quase teve o goleiro Bruno passeando pela Sapucaí, já que ninguém protestou a sua saída do presídio. Estávamos muito ocupados sendo alegres.

Quantos policiais deixaram de estar nas ruas por causa do Carnaval? Quantas ambulâncias deixaram de atender o vovô que quase enfartou olhando a mulher seminua desfilar? Quantos buracos deixaram de ser tampados com o dinheiro que as prefeituras gastaram? Quantos morreram em acidentes nas estradas por causa dessa alegria irritante que nós brasileiros teimamos, assim como os africanos, em ter esse orgulho infundado.

Um dia eu quero, de verdade, ser feliz! Que me perdoe Dodô e Osmar, mas atrás “desse” trio elétrico só não vai quem já morreu... Morri!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Digite aqui seu comentário. Se não tiver um login válido e comentar como Anônimo, favor colocar o seu nome no final para que o autor saiba quem é!