sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

NÃO VOU FALAR SOBRE O HAITI

Hoje eu prometi que não escreveria sobre o triste terremoto do Haiti. Sei lá, acho que eu não quero parecer um blogger canibal e oportunista como na maioria das vezes acabamos sendo. Serei apenas um nativo, patriota e saudosista acima de tudo.

Por que não falar sobre a terra que treme nas favelas do Rio de Janeiro a cada vez que a polícia resolve subir o morro? Um tremor tão forte que desafia as leis da própria física, sacudindo os céus a ponto de derrubar até helicópteros. Tudo isso sobre as cabeças amedrontadas dos trabalhadores e das pessoas de bem que encontraram ali sua única condição de moradia.

Ou falar de nossas crianças, que assustadas com o nosso terremoto versão catástrofe não natural, correm pelas ruas, pedem dinheiro, comida, cheiram cola e vendem o próprio corpo. Os abrigos que deveriam mantê-las sobre o cuidado do Estado estão em ruínas, por falta de planejamento e excesso de preciosismo de nossos governantes.

E os nossos impostos, que soterrados pelas vigas de um Senado incrédulo e corrupto, ainda respiram esperanças de serem localizados um dia. Mesmo que para isso as equipes de resgates tenham que jogar na mídia aquilo que deveria apenas nos trazer sorte, Arruda - e não, levar o nosso dinheiro na meia até um paraíso fiscal qualquer.

Por que não falar de Carnaval, Copa do Mundo, Olimpíadas? Oba! São essas as festas que nós brasileiros aprendemos a usar como maca para os problemas desse país. E no Carnaval o resgate ainda é feito com enfermeiras de corpos sarados recém saídas de reality shows ou revistas impróprias. Elas levam qualquer um pro hospital... ou pro inferno. E nas Olimpíadas já temos uma medalha de ouro garantida: Tiro ao alvo, para o traficante que derrubou o helicóptero no RJ.

Também temos o nosso pós-terremoto, que leva milhares de pessoas a vagarem como mendigos pelas ruas das chamadas cidades civilizadas. E elas não perderam seus pais, filhos e entes queridos para um desastre natural, perderam para o álcool, a cocaína e o crack. Ficaram órfãos de sonhos mesmo sem nunca terem sonhado.

Eu também posso contar como os nossos lares são saqueados mesmo quando nunca os abandonamos. Os bandidos entram em nossas casas, nos agridem covardemente, cortam nossas orelhas, nos fazem reféns e levam tudo que podem, inclusive aquele restinho do senso de segurança que tínhamos. Passamos então a enxergar a terra tremendo numa intensidade de 8.0 graus na escala de Richter, pelo resto de nossas vidas.

Desculpe, infelizmente eu quebrei a minha promessa e falei sobre o Haiti. Mandem nossos homens de volta!

Pois como diz a música de Caetano: o Haiti é aqui!

                                                                             Autor: Lange Pinheiro

GOSTOU DESSE TEXTO? CLIQUE ABAIXO E COMENTE.

2 comentários:

  1. Lange. É claro que temos sim que nos preocupar com os nossos irmãos haitianos. Mas você disse bem: O HAITI TAMBÈM EH AQUI! Com tantos problemas no nosso país as vezes eu também tenho a impressão que estou em um terremoto. Valeu pela crônica. Essa eu também vou guardar com carinho.
    Abç, Sandro Moska

    ResponderExcluir
  2. Euver - Esta é sem dúvida uma crônica forte. Todo mundo com dó do povo do HAITI e você contraria a regra... Fala dos nossos problemas. Penso que você está no caminho certo. Um cronista tem mesmo que pertubar os leitores e contrariar pensamentos. Parabéns.

    Renato :.)

    ResponderExcluir

Digite aqui seu comentário. Se não tiver um login válido e comentar como Anônimo, favor colocar o seu nome no final para que o autor saiba quem é!