“Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci...” Eu não sou um fã de rap, ainda mais de um tão antigo assim. Mas desde ontem esse refrão não sai da minha cabeça.
A culpa é de um grande
chegado,
parceiro mesmo
, que me motivou a fazer uma
puta reflexão sobre o real sentido da felicidade.
Tipo assim, a gente dava um
rolé pela Barra da Tijuca em frente a luxuosos condomínios quando começamos uma
maçante discussão. Tudo porque ele me deu um
caô que não acreditava que uma pessoa poderia ser feliz morando em uma favela!
Tá de saca né?
Caraaaca aê, eu fiquei
boladão!!! Tudo bem que o caminho era inspirador para um papo
cabeça. Possantes importados sobre as calçadas cobertas por pedras portuguesas margeando ruas limpas e vazias. Havia aquele melancólico silêncio burguês dos apartamentos com suas janelas de vidros fumês sempre trancadas, pra não vazar o clima de montanha dos glamorosos splits. Nada de
moleques batendo bola, soltando pipas, e os únicos pobres que vimos estavam de gravatas, abrindo e fechando as portarias dos condomínios com aquele cadenciado “boa tarde”. No
trecho também achamos uma banca de revista em que uma bala custava 1
pau... na favela a bala é de graça e perdida, infelizmente!
É de graça porque é o povão que
leva ferro pela corrupção da polícia que sobe o morro distribuindo
porrada quando o dono da boca não deixa a
intera da caixinha. De graça por falta estrutura do Estado, incapaz de controlar o crescimento desordenado com uma boa idéia que não seja feita de concreto e discriminação, como aquele tal muro. É de graça porque o filhinho de papai é um
noiado, mas tem
bala na agulha pra comprar todo tipo de droga, mesmo que seja a droga de uma justiça que condena a mãe que furta um pacote de feijão - mas absolve os
playboys que meteram fogo no índio Galdino.
Voltando a discussão com meu
chegado, apenas parto do princípio de que moro no meio do caminho, Taquara, entre o luxo e o lixo.
Na moral, posso te
mandar uma real: se for pra ser feliz eu prefiro a favela!
Eu quero a alegria de um povo que
racha o bico quando tem mil motivos pra chorar. Gente que
rala muito, pega 3
busão pra voltar do trabalho, mas ganha o beijo do filho ao chegar no seu
barraco porque o
moleque não está ocupado no PS3. Pessoas humildes que oferecem café as visitas, servido na cozinha mesmo. Gente que conta piada, que ri de si mesma, canta, dança
funk na calçada e pega
bronze na laje. Gente de ajuda o próximo, que divide o arroz pra multiplicar esperanças de dias melhores. Pessoas com calor humano de verdade.
Ideologia? Se por tradução esta é a ciência das idéias, então
já é! Se procurássemos viver de forma mais simples, não ficaríamos enforcados já na 4ª prestação do 0 km comprado pra impressionar o vizinho, quando o
carango de 5 anos atrás atendia perfeitamente a todas as nossas necessidades. Na simplicidade talvez tornássemos nossos filhos mais imunes a bactérias e doenças do que as nossas esposas ao consumismo exagerado nos shoppings. Quando me lembro de um tal Imperador que gosta mais do churrasco da Vila Cruzeiro do que o da sua cobertura na Orla, do pagodeiro que depois de
se dar bem ainda prefere tomar sua
cervejota em Xerém, seja a boa ou a nova - eu entendo. A coisa está mudando. Ser fino está deixando de ser chique,
sacô?.
Seria uma
barra conviver com os
bacanas de olhar superficial que reclamam do “
gato Net” do povão, mas não abrem mão do “
gato Light" e “
gato Cedae” que abastecem as suas piscinas e banheiras de hidromassagem. Seria uma
barra receber aquele contador
carniceiro no meu apartamento de luxo, com olhares e recibos falsos, pra diminuir a mordida do Leão na minha
bunda. Seria uma
barra minha mulher andar 3 quarteirões pra comprar um pãozinho a 70 centavos, não encontrar o
refrigereco que ela adora, e ainda ser tratada com frieza pela dona da padaria. Mais uma granfina, mulher de empresário, brincando de dona do próprio negócio nos intervalos entre o salão, massagem e viagens à Paris. Seria uma
barra pagar
uma nota na escola de rico do meu filho, com festinhas articuladas, crianças mimadas, pouco calor humano e o mesmo surto de virose da creche da prefeitura.
Desculpe amigo,
foi mal. Tentei falar bonito, mas não
rolou. É que eu não queria que este texto ficasse restrito a apenas 5% da população. Mas tudo bem, acho esses risquinhos ai podem tampar o sol com a peneira. Não é assim que se faz?
Amanhã a gente se vê novamente,
valeu!
Obs.: Errata: A foto está de cabeça pra baixo. Você notou?
Autor: Lange Pinheiro
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Novamente vc né Sr. Lange! Sempre com textos conturbantes e polêmicos. Muita gente descorda, claro. Mas fico pensando se não é essa justamente a sua intensão, risosss!!!!!
ResponderExcluirNa escola da vida você é um dos melhores alunos que eu já vi.
Cutuuuuuuca! Cutuca a onça com vara curta seu filho da mãe !!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirLange, vc sabe como eu sou seu admirador. principalmente dessa sua eterna insatisfação, com sua crítica incontrolável e seus argumentos tão bem embasados. PARABÉNS!
A foto invertida tb foi idéia sua? Mto bakana.
Um abraço
Um abraço - Renato Loureiro.