sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Professora, posso ir ao banheiro?


Hoje eu fiquei sabendo que acabou a greve dos professores municipais no Rio de Janeiro! Depois de quase 3 meses de paralisação, muitas faixas criativas, quebradeira no centro do Rio, bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e muito spray de pimenta, finalmente eu poderei voltar as aulas na próxima terça feira. Meio traumatizado, de certo, já que quando penso na imagem dos meus professores queridos ao lado daqueles homens mascarados que quebravam tudo, percebo que isso não será assim tão fácil de esquecer. Até o Batman, meu grande herói, foi preso pelos PMs... Quer mais?

Confesso que no início dessa greve eu estava até gostando. Soltei pipa, brinquei o dia inteiro, namorei no Facebook, roubei banana no quintal do vizinho e bati todos os recordes no vídeo game. E olha que eu jogava na casa do meu amigo hein! Só comecei mesmo a ficar chateado com essa paralisação quando minha mãe perdeu o seu emprego. Ela trabalhava exatamente no horário em que eu estudava e teve que faltar todo esse período para me vigiar (ou tentar). E agora no finalzinho eu também não tinha mais nada pra fazer, estava muito sem graça.

Não sei como foram as “férias” dos outros 45 mil alunos que também ficaram sem aula, mas acho que não deve ter valido à pena. Mas saibam que esse período também foi pedagógico pra gente, viu. Eu, por exemplo, aprendi Português com os bate-bocas de vocês com os PMs, aprendi Ciências ao estudar o efeito dos sprays de pimenta nos olhos dos grevistas e hoje aprendi Matemática quando tentei calcular a diferença exata entre os 19% de reajuste reivindicados para os 8% dados pelo nosso cruel prefeito. Mas a aula principal foi mesmo a de História, pois como vocês sempre nos ensinaram: numa guerra, todo mundo perde!

Se a culpa é da Prefeitura ou dos professores, não me importa. Afinal, quando um não quer, dois não brigam. Nota 0 para todos!

E agora professora, eu posso ir ao banheiro?

7 comentários:

  1. Mais um texto fantástico e atual do meu amigo Lange - muito bom !!! Guilherme Sereno

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  2. Gostei muito de ler este seu texto, fez-me lembrar, por outras razões, dois episódios da minha meninice, do meu sétimo ano (não sei qual será o vosso equivalente - quando eu tinha 11-12 anos) e do sentimento de liberdade, que qualquer miúdo naquela idade tem, por não ir à aulas.
    O sétimo ano lectivo implicava uma grande mudança, pois nesse ano mudávamos de escola e muitas vezes de lugar, vínhamos para a grande cidade (grande cidade portuguesa comparada com brasileira é pleonasmo). A escola nova era um edifício velho e por via disso as aulas só começaram em meados de novembro, quando deveria ter sido em Setembro.
    Esse edifício velho, era um conjunto de pré-fabricados, que se propiciavam muito a assaltos e num desses assaltos roubaram as chaves das salas de aulas. Que festa para nós!, não iriamos ter aulas nesse dia!… Até que… o Pedro, raios partam o rapaz, lembro-me que tinha o dedo polegar direito bífido, e por isso lhe chamávamos o onze dedos, as encontrou num caixote do lixo! Estivemos para correr com ele!
    Como era tão bom votar a ter essa idade

    Claro que o que escreve, e da forma deliciosa como o faz, mostra uma outra realidade, e estando eu fora de contexto, permita-me somente sublinhar que como diz os professores estiveram em greve. Para estarem em greve, algumas razões devem ter tido, pois um professor, seja em Portugal, no Brasil ou em outro país qualquer, só priva os seus alunos das aulas se as razões forem muito fortes.

    Um abraço
    António (com ´ não com ^)

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    1. António. Obrigado pelo comentário. É bom saber que meu texto despertou em ti algum sentimento nostálgico e de certa forma feliz.
      Tem razão com relação aos professores, tiveram sim, bons motivos para fazer uma greve. No texto o aluno fala para a professora, pois é sua interlocutora mais acessível. Mas a idéia não é culpar apenas os professores, mas sim abrir o leque para que eles reflitam sobre a ação.
      Quem sabe na próxima greve (que certamente haverá) o aluno do texto ouse um pouco mais e invada a prefeitura pra dizer tudo que pensa ao prefeito? hein, hein, hein!!! Risos.
      Grande abraço e obrigado.

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  3. Também sou professor no RJ e posso afirmar que nossos colegas tiveram bastante motivos para essa greve. Mas também não posso negar que essa "coisa" prejudica mais aos alunos do que as partes conflitantes.
    Só questiono mesmo se é isso que devemos fazer, parar tudo. Poderíamos agir com mais criatividade e aplicar os nºs de nossas perdas salariais nos últimos anos na matéria de Matemática por exemplo. Poderíamos estimular os alunos de Ciências e desvendar o segredo da corrupção no nosso Estado, por que ninguém pega os homi? Em Português estimularíamos eles a descobrir o significado de termos bem comuns nos corredores das nossas prefeituras: LAVAGEM, MOLHAR A MÃO, FORCINHA, POR DEBAIXO DOS PANOS, etc.

    Abraços. Parabéns pelo texto
    Antônio Miranda.

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    1. Obrigado Antônio Miranda.

      O bom de escrever crônicas como esta é perceber que comentários ainda melhores podem surgir, e de pessoas que a gente nem conhece. Isso me estimula a melhorar a cada dia que se passa.

      Abraços professor!

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    2. Caro Antônio, meu homónimo,
      eu também já fui professor, em finais da década de '90, hoje o contactoque tenho com a escola faço-o a jusante, através dos meus filhos, enquanto pai e encarregado de educação. Uma greve, por definição, tem sempre prejuízos é claro que sendo uma greve de professores afecta crianças, jovens, afectam os pais.
      Compete a quem marca a greve ponderar tudo isso e descortinar se o que está em luta merece essasimplicancias todas. Este ano, aqui em Portugal houve uma greve aos exames finais (de acesso ao ensino superior) e greve às avaliações finais. Em minha opinião, mesmo interferindo com a vida dos meus filhos, foi uma luta justa.

      P.:S.: Algo completamente diferente, um facto que é noticia em aqui em Portugal, não sei se o é no Brasil ( http://www.publico.pt/desporto/noticia/surfista-brasileiro-pode-ter-batido-recorde-de-mcnamara-em-onda-gigante-na-nazare-1610550 )

      António (com ´ não com ^)

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